Transubstanciações
Quando crianças caminhamos em transubstanciações.
Aqui refiro-me às transubstanciações ético-estéticas.
Quando crianças somos livres para desenhar, pintar, cantar, dançar pois vivemos em corpos celebrantes que mesmo em limitações físicas transmutam-se em imaginárias criações.
Mas, é quando criança que temos transmutadas nossas livres existências estéticas em condutas subalternizadas, ou subordinadas, ou sufocadas pelos juízos estéticos anéticos.
É quando criança que a pessoa vai se formatando em espectadora da vida, e vai se esquecendo como falar, falar sem verbalizar, desenhar, cantar, pintar, dançar, em fim, representar sentidos, sensações e sentimento.
A cada série escolar que avançava diminuíam as pessoas que desenhavam na minha vida.
Para sobreviver, como criança, na sala de aula iniciei um processo que levei comigo por toda a vida: transmutava-me às avessas.
Ao invés de escrever notas de falas das (os) professoras (es) desenhava ostensivamente nos cadernos, margens de textos, versos de impressos. Centrava-me numa atmosfera em que absorvia as vozes no ambiente e transubstanciava seus ritmos e temas em traços e ranhuras. Comecei assim as minhas transubstanciações cotidianas". Ventura, manuscrito, 1994.

Mateus e o Anjo - Estudo Nº 1. Detalhe.
Por estes corredores transitarão transubstanciações. Projetos, estudos fluídos de momentos de introspecções necessários à ampliação da minha concentração em horas pedantes ou interessantes, em momentos de conversas, de reuniões ou de esperas coletivas ou solitárias.
Apresento como primeira transubstanciação Mateus e o Anjo - Estudo Nº 1, como estudo que levou à deriva, à pintura Anjo, donde estás Mateus? , esta última composta como uma das obras da exposição Celas e Horizontes Bipolares.

Mateus e o Anjo - Estudo Nº 1.
Esferográfica sobre papel, 1996,
Belo Horizonte
29,7CMX21,1CM.
Acervo do Artista.
A segunda obra de transubstanciação que escolhi para a abertura desta página carece ainda de ter seus estudos em esferográficas encontrados. A concepção dos sentidos e sensações transmutadas nesta pintura se deu durante minhas lembranças de uma leitura que fiz ,em um jornal impresso de Monte Claros, sobre "desrespeitos" e negligências para com os catopês da minha cidade natal. Já vivendo em Belo Horizonte, as tormentas daquelas memórias de acontecimentos, que eu se quer presenciei, somente deixou-me após a pintura Catopê ou autorretrato colorido entre transeuntes de Capital.
